sexta-feira, 3 de abril de 2009

A MBOITATÁ

Este é um conto regional, brasileiro, gaúcho (é uma das poucas superstições entre os camponeses rio-grandenses) , escrito por J.Simões Lopes Neto, de seu livro Lendas do Sul, em 1913.
Embora se faça referência de sua grafia como exposta no título, é comum também vê-la grafada sem o “M” inicial (em BOITATÁ), e mesmo tendo se tornado popular através do escritor acima descrito, existem referências à lenda anteriores, feitas por José de Anchieta em 1560.
Existe até uma tentativa de explicar cientificamente as chamas produzidas pelo animal monstruoso através da teoria do Fogo-fátuo, que é uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e de outros gases inflamáveis que evaporam dos pântanos e dos lugares onde se encontram matérias animais em decomposição.
Mboitatá é uma palavra de origem guarany que significa: Mboy – cobra; e Tatá – fogo. Fica então popularmente conhecida como Cobra de Fogo, e a lenda gira em torno disso, embora também seja comum referir-se à criatura como um pássaro de fogo ou um touro.
Diz a lenda que houve uma noite muito longa e as pessoas ficaram apavoradas e achavam que ela não mais terminaria e aí houve grande dificuldade em se manter a ordem, começou a faltar alimento, não se encontrava carne, não se podia colher no escuro, então se perdia a safra inteira. Mais ainda se temia pois não se via nem o brilho da lua e nem das estrelas, a escuridão era tão plena que as pessoas tinham medo de não mais se encontrarem se ao longo do caminho se afastassem. Acabavam por ficar reunidas ao redor de pequenas fogueiras que não conseguiam ser alimentadas por muito tempo e acabavam por gerar pouquíssimo calor devido ao grande acumulo de brasas.
No princípio desta noite uma forte chuva caiu inundando todas as áreas baixas, os animais fugiram aos bandos e as pessoas somente sobreviveram por causa das fogueiras que haviam acendido que afugentava os animais.







Em uma gruta próxima viva a BOIGUAÇU (uma cobra gigantesca) e esta quase sempre estava dormindo। Tendo sua gruta também invadida pela água esta por pouco não morreu afogada e também migrou, entretanto não se aproximava dos outros animais, que haviam se aproximado para subsistir.



A chuva parara, mas a escuridão continuava e a fome aumentava muito pois os animais não conseguiam encontrar o caminho de volta। Todos brigaram entre si, sem ver exatamente com quem devido à escuridão। A Boiguaçu via tudo, pois tinha olhos imensos, que se adaptaram a escuridão, por só viver nesta। A imensa cobra também estava faminta e só não atacou por estarem os animais todos aglomerados, entretanto eles já não mais agüentavam de fome, estavam fracos e ela resolveu começar sua onda de ataques. Preferia comer olhos de animais. E assim foi, começou por atacar uma onça e comeu seus olhos após matá-la, e foi fazendo isto com todos os outros animais.



Como era muito fina sua pele, ela começou a ficar luminosa, por conta de tantos olhos comidos.
Alguns a viram e não mais a reconheceram, acharam que se tratava de outra cobra e passaram a chamá-la BOITATÁ।






Os habitantes, apavorados, achavam que qualquer um poderia se tornar nova vítima deste monstro।
Entretanto ela começou a se enfraquecer, pois somente comia olhos que, se por um lado a satisfizesse não a sustentavam, e assim, acabou morrendo, entretanto, sua luz se espalhou podendo tomar outras formas।
Tornou-se então um espírito protetor devendo tomar conta das campinas।
Com a sua morte, a grande noite findou-se।

Alessandro de Moura Freitas

Referências:
"Lendas do Sul" de J. Simões Lopes Neto. Editora Globo. 11a edição. 1983.
http://www.paginadogaucho.com.br/lend/mboi.htm
http://dicionario.babylon.com/
http://www.terrabrasileira.net/
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http://images.elfwood.com/art/a/c/acarneiro/boitata.jpg.rZd.35783.jpg